Há três meses, o governo parecia acabado e a reeleição, um sonho distante. Entenda a virada de jogo que redefiniu o poder em Brasília, abalou a oposição e pode selar o destino de 2026.

Foto Oficial do Presidente Lula

Brasília – O xadrez político brasileiro é implacável. Peças que parecem encurraladas podem, em poucos lances, virar o jogo. Há exatos três meses, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vivia seu inferno astral, com analistas decretando um fim precoce para seu terceiro mandato e uma reeleição praticamente impossível. Hoje, o cenário é outro: uma maré de eventos favoráveis não apenas estancou a sangria, mas colocou o presidente novamente na ofensiva.

O ponto mais baixo dessa jornada começou a ser cravado em 25 de junho. Naquele dia, o Congresso Nacional, em uma demonstração de força avassaladora, impôs a Lula uma de suas derrotas mais humilhantes: a derrubada de seus decretos sobre o IOF por quase 400 votos. Pela primeira vez em três décadas, um decreto presidencial era fulminado pelo Legislativo. Nos corredores do poder, o clima era de perplexidade entre os governistas e euforia na oposição, que via um governo em frangalhos, apoiado por partidos que, ironicamente, comandavam 11 ministérios.

Essa derrota foi o ápice de uma crise que vinha se desenhando desde janeiro, passando pela aprovação popular mais baixa de suas três gestões e pela incapacidade de reagir a ofensivas virais nas redes sociais. O governo parecia acuado, sem narrativa e à mercê do Congresso.

Saindo das cordas

Contudo, ao contrário de outras derrotas, onde a resposta era a contemporização, a humilhação do IOF provocou uma reação feroz. Lula decidiu sair das cordas.

A primeira jogada foi levar a batalha ao Judiciário, acionando o Supremo Tribunal Federal (STF) e conseguindo, através de decisões de Alexandre de Moraes, reverter parte do prejuízo. Simultaneamente, a estratégia política mudou da água para o vinho. O PT orquestrou uma poderosa contraofensiva digital com o mote ricos contra pobres“, usando inteligência artificial para pintar o Congresso e o Centrão como defensores de privilégios contra os interesses do povo. A campanha foi um sucesso estrondoso, colocando pela primeira vez a oposição na defensiva e neutralizando o discurso de “ninguém aguenta mais imposto”.

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Ajuda externa

Como se o destino conspirasse, um fator externo incendiou ainda mais o tabuleiro: a decisão do governo de Donald Trump, em 9 de julho, de sobretaxar produtos brasileiros em 50%. O que era uma crise diplomática e econômica se transformou em ouro político para Lula. A ofensiva americana permitiu que o presidente e seu partido retomassem com força a bandeira da soberania nacional e as cores verde e amarelo, um território que o bolsonarismo dominava com exclusividade. A defesa da família Bolsonaro às sanções foi a munição perfeita para carimbá-los como “os pais do tarifaço”.

O embate com os EUA respingou diretamente na principal aposta da oposição para 2026, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A reação inicial errática do governador de São Paulo, somada ao uso de uma bandeira gigante dos EUA em um ato bolsonarista, criou uma imagem que os estrategistas petistas já se preparam para explorar à exaustão.

Enquanto a oposição se enfraquecia, a maré positiva para Lula ganhava força. A prisão domiciliar e posterior condenação de seu maior rival, Jair Bolsonaro (PL), pelo STF, removeu a principal peça de oposição do jogo diário. Em setembro, a popularidade de Lula deu um salto: o Datafolha mostrou a aprovação subindo para 33%, o melhor índice do ano, enquanto a rejeição caiu.

O embate

O embate com os EUA respingou diretamente na principal aposta da oposição para 2026, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A reação inicial errática do governador de São Paulo, somada ao uso de uma bandeira gigante dos EUA em um ato bolsonarista, criou uma imagem que os estrategistas petistas já se preparam para explorar à exaustão.

Enquanto a oposição se enfraquecia, a maré positiva para Lula ganhava força. A prisão domiciliar e posterior condenação de seu maior rival, Jair Bolsonaro (PL), pelo STF, removeu a principal peça de oposição do jogo diário. Em setembro, a popularidade de Lula deu um salto: o Datafolha mostrou a aprovação subindo para 33%, o melhor índice do ano, enquanto a rejeição caiu.

Para completar, a oposição tropeçou em suas próprias pautas. A tentativa de aprovar uma anistia para Bolsonaro e a “PEC da Blindagem” gerou protestos nas ruas e uma repercussão tão negativa que o Senado arquivou o projeto, causando um novo desgaste para o Centrão.

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Mas atrapalhada da oposição

Hoje, o governo que antes implorava por votos vê um caminho mais fácil para aprovar seu pacote de reeleição. Medidas como a redução na conta de luz para baixa renda e o programa “Agora Tem Especialistas” passaram sem grandes sustos. A próxima batalha, a votação da ampliação da isenção do Imposto de Renda, uma promessa chave de 2022, agora parece muito mais provável.

“Subestimaram a experiência de Lula”, afirma o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ). “Os resultados do governo estão aparecendo, com deflação nos alimentos e dólar em queda, enquanto a oposição se mostra frágil e com pautas antipopulares.

“Do outro lado, a oposição reconhece a melhora, mas a atribui a fatores pontuais. “A leve recuperação se deve à queda no preço do arroz e feijão”, diz o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), que ainda aposta em uma debandada da base aliada. Já o deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB) acusa o governo de usar o STF para “sufocar o Congresso e colocar a opinião pública contra nós”.

A verdade é que, em três meses, a política brasileira provou mais uma vez sua imprevisibilidade. O governo que era dado como morto não só sobreviveu, como aprendeu a lutar com novas armas. A questão que fica no ar é se essa virada é um fôlego momentâneo ou a consolidação de um poder que, mais uma vez, ressurge mais forte de suas próprias cinzas.

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